Só no estado de São Paulo, o mercado de
trabalho do setor de serviços gerou 230% mais vagas em janeiro deste ano
do que no mesmo período de 2023, segundo a Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Foram
cerca de 13,6 mil novos postos de trabalho a mais no mês na comparação
com o mesmo mês do ano anterior.
No comércio paulista, o volume de vendas
aumentou mais de 10% no mês em relação a janeiro de 2023, segundo a
Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Os serviços, por sua vez, não apenas cresceram como
também indicaram uma tendência que pode permanecer ao longo de 2024, já
que eles vêm de uma alta de 3,3% no faturamento em relação ao mesmo mês
do ano anterior, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), da mesma
instituição.
Os segmentos que ajudaram os serviços a
crescer em janeiro, revela a FecomercioSP, foram os de educação, com 8,2
mil novos postos de trabalho, atividades técnicas e científicas, como
contabilidade, consultoria, engenharia e arquitetura (3,3 mil) e de
saúde e serviços sociais (3,2 mil).
Mas como explicar o ressurgimento de investimentos e de empregos no Brasil?
“Emprego é a principal engrenagem da
economia. Com mais dinheiro no bolso o brasileiro endividado paga suas
contas e reestabelece o crédito. Quem não está endividado passa a
consumir mais. Com mais consumo, a indústria e o varejo contratam mais,
criando um cenário para reestabelecermos o círculo virtuoso da
economia”, explica Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva,
que analisa o cenário macroeconômico.
O aumento do consumo, conforme apontou
Meirelles, é registrado pela Associação Brasileira de Supermercados
(Abras). Estudo da entidade mostra que, em janeiro, o consumo nos lares brasileiros subiu 1,2% em comparação com o mesmo período de 2023.
A cesta de produtos da Abras, com 35 itens
de amplo consumo, custava R$ 732,69 em janeiro, 2,9% a menos do que a de
janeiro do ano passado.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo
Gala, vê com bons olhos o aquecimento do mercado e a expansão do número
de empregos formais. “A economia brasileira está mais aquecida. Os novos
empregos são de melhor qualidade, com benefícios trabalhistas, o que
proporciona a injeção de mais dinheiro na economia. Essa maior
contratação [registrada em janeiro] é reflexo da roda da economia estar
girando. E a previsão é de girar mais ainda”, observa Gala.
O economista afirma também que a redução da
taxa de juros é outro ingrediente primordial para o bom desenvolvimento
econômico. Na quarta-feira passada, a estabilidade dos preços fez o
Banco Central (BC) cortar os juros pela sexta vez seguida. Por
unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano.
São fatores, diz Paulo Gala, que favorecem a
população a consumir mais, comprar mais, viajar mais, se alimentar mais
e melhor. “Com dinheiro no bolso e juros mais baixos o brasileiro
consegue fazer financiamentos para adquirir imóveis, veículos e todos os
bens que necessita”, afirmou.
O economista-chefe da Associação Paulista de
Supermercados (APAS), Felipe Queiroz, tem o mesmo entendimento. “A
redução da taxa Selic é estímulo para a atividade macroeconômica.”
Ele aponta ainda que as ações do governo
federal para diminuir a inadimplência também estimula o consumo
doméstico e eleva o nível de atividade econômica. “Está havendo aumento
real da renda da população. Em junho de 2023, 28,4% da renda total
estavam comprometidos com o serviço da dívida. Com esse serviço para
solucionar as dívidas, o Desenrola, quase 30% da renda das famílias
deixaram de ir para o setor financeiro e passaram a ser destinados para o
consumo”, explica Queiroz.
“O saldo do mês de janeiro com a abertura de
180 mil novos postos de trabalho no país indica que a economia está
mais aquecida. Mais do que alguns especialistas projetavam. O desempenho
do comércio e o consumo das famílias sustentam em alta.”