Os Dez Mandamentos está chegando a uma das fases mais esperadas da
saga de Moisés, que são as dez pragas do Egito. Para que o público compreenda
melhor o significado de cada uma delas e o simbolismo que há por trás dos
próximos acontecimentos, o historiador da Rede Record,
Maurício Ferreira explica, primeiro, de que forma as pragas
causam um impacto direto na sociedade egípcia.
─ Os egípcios entendem o mundo através da ordem cósmica e do
caos. O faraó tenta manter a ordem cósmica, que seria o controle da natureza, e
estas pragas representam uma perturbação na ordem cósmica. A ação dos deuses é
justamente impedir o caos na terra e as
pragas são, por fim, a representação do verdadeiro caos, ou seja, do fim.
1- Água do rio Nilo em
sangue.
─ Talvez esta seja a pior das pragas para os egípcios porque
este povo vive em função do rio Nilo. O Egito é uma faixa de terra estreita,
cultivável, dentro do deserto. Longe do rio Nilo não há vida, até porque o rio
é regido por algumas divindades. O deus Khnum, por exemplo, é um deus
relacionado ao rio Nilo, assim como a deusa Isis. Segundo a mitologia, o rio
Nilo representa as lágrimas da deusa Isis. Se o rio é transformado em sangue,
toda a vida no Egito será impactada. Não haverá água para beber, os sacerdotes
não poderão fazer suas limpezas e purificações para as cerimônias religiosas, a
plantação será prejudicada, ou seja, tudo é alterado por conta desta praga, a
mais prejudicial ao Egito.
2- Rãs.
─ A praga das rãs está ligada à primeira, da
transformação da água em sangue. Se as rãs estão fora de seu habitat
natural, é sinal de desordem cósmica. Nesta praga, as rãs se
multiplicam, saem do rio e invadem a cidade. Há um descontrole natural.
3- Piolhos.
─ O piolho tem um significado para os egípcios, que raspavam
cabeça e pelos do corpo para evitar este bicho. O piolho é um parasita que
representa sujeira e impureza, principalmente. Os sacerdotes devem se manter
puros para ter contato com coisas ligadas aos deuses, como estátuas, fazer ofertas
e elevações, por exemplo. Esta proliferação afeta não só o cabelo dos egípcios,
mas também o resto do corpo e os torna impuros.
4- Moscas.
— As moscas trazem um grande problema para o Egito, também
associado à limpeza. Se existe mosca, existe sujeira e os egípcios tinham o
costume de tomar três banhos por dia, no mínimo. Este inseto leva contaminação
ao corpo, aos alimentos, às coisas sagradas e os sacerdotes, assim como todo o
povo, tinham grandes cuidados com a higiene, pois precisavam estar aptos para
praticar rituais. As moscas são distribuidoras de contaminação e, para um
egípcio com mania de limpeza, isto é terrível. Além disso, elas levam doenças
aos animais, o que tem relação com a próxima praga.
5- Doenças nos
animais.
─ Esta praga apresenta um duplo problema. Primeiro, porque
os animais domésticos e de serviço vão morrer. O boi Apis, por exemplo, é um
deus em formato de animal. Existe uma adoração muito forte no Egito por ele,
que é criado para ser cultuado. Inclusive, uma cerimônia é feita com este boi,
selecionado com base em vários critérios, que revitaliza as forças do faraó. Além
disso, há um buraco econômico porque não haverá carros de bois e animais que
ajudam na plantação.
O segundo problema é a questão de os deuses serem
antropomórficos, ou seja, eles se apresentam como metade humanos e metade
animais. Cada deus tem um bicho que o representa, então a morte dos animais
seria a morte dos deuses.
6- Úlceras.
─ Esta praga causa manchas na pele. Se você tem uma doença
será uma pessoa suja, impura e encontrará dificuldades para praticar cultos e
cerimônias adequadamente. Estas úlceras também podem ser um castigo da deusa da
vingança e destruição, Sekhmet. Segundo os mitos do Egito, insatisfeitos com os
seres humanos, esta deusa acaba com os homens, mas, depois, se
arrepende. Porém, quando ela começa, não para. Sekhmet só interrompe as mortes
com a invenção do vinho, porque os homens servem vinho para a deusa e ela pensa
que é sangue. Daí, volta a ser a deusa da festa.
7- Granizo.
O granizo traz um impacto direto ao povo egípcio, pois não é
algo comum. Com ele, quase metade da plantação é perdida, o que faz o povo
passar fome. Esta praga causa mais um problema econômico.
8- Gafanhotos.
Os gafanhotos não têm significado religioso, mas a passagem
deles já demonstra que pessoas vão morrer de fome, pois praticamente 80% da
produção de trigo será afetada. Os egípcios precisariam passar pelo menos um
ano inteiro apenas com reservas de alimentos. Isto vai causar desordem social e
medo.
9- Treva (Dia se
transforma em noite).
─ Na mitologia, há o deus Rá, que é o Sol. Em
todo fim de dia, quando o Sol desce pelo horizonte e desaparece, os egípcios
acreditam que ele está passando pelo mundo dos mortos. A viagem é perigosa e
este deus seria atacado por um monstro. Então, todos os deuses saem do Egito
durante a noite e vão até o mundo dos mortos para proteger o deus Rá. Se o Sol
não voltar de manhã para o mundo dos vivos e reaparecer, o mundo morre. Ou seja,
vendo o dia virar noite, os egípcios vão acreditar que o deus Rá foi derrotado
e que toda a vida na terra deixará de existir.
10- Morte dos
primogênitos.
Esta implica necessariamente nos projetos políticos de
sucessão. Na Antiguidade, o filho mais velho herda a maior parte dos bens e é
responsável pelo legado do pai. Para o faraó, o mais velho assumirá o trono.
Quando o primogênito morre, toda a geração preparada para comandar o Egito
desaparecerá. O segundo problema desta praga é que o processo de luto e
mumificação, no caso do faraó, demora 72 dias. Com a morte dos primogênitos, o
Egito entra em luto, o que gera a melhor oportunidade para o povo hebreu sair
do Egito.
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