sábado, setembro 23, 2017

Debates no Festival de Brasília destacam papel do negro no cinema.

A representação de pessoas negras nas telas de cinema e a participação delas nas diferentes etapas da realização de um filme, em especial no roteiro e na direção, foram temas que permearam as discussões sobre os filmes da mostra competitiva do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que vai até domingo (24).

A curadoria do festival selecionou para a mostra filmes com diferentes representações de personagens negros, homens e mulheres, dirigidos por brancos e negros de ambos os sexos, de diferentes regiões do país. “Ao ver o que se apresentava, seria muito difícil a curadoria não perceber a importância que tinha essa discussão nesse momento. A gente não estava no papel de pautar uma discussão e encontrar os filmes, mas os filmes claramente nos colocavam a possibilidade de trazer essas questões”, disse à Agência Brasil o diretor artístico do Festival, Eduardo Valente.

A discussão começou intensa após a primeira noite da mostra competitiva. O filme Vazante, dirigido por Daniela Thomas, foi aplaudido após a exibição no último sábado (17), mas recebeu uma série de críticas de negros e negras durante o debate sobre a obra, realizado no dia seguinte com a presença da diretora e de parte do elenco. “Num filme de época, quando dirigido por um diretor branco, escrito por um roteirista branco, em geral, os atores negros fazem escravos. Escravos em geral são só escravos, não são pessoas, temos que pensar sobre isso, sobre a subjetividade das pessoas escravizadas”, questionou a atriz Mariana Nunez.

O ator Fabrício de Oliveira, que é negro e está no elenco de Vazante, disse que há subjetividade nos personagens, mas que o filme poderia estar “mais recortado para esse olhar, ainda mais sendo feito hoje”. Após assistir ao filme completo pela primeira vez durante o festival, o ator disse que o resultado despertou nele uma série de questionamentos. “Acho importante que esse filme seja realmente discutido, que a gente se coloque mesmo. Porque eu acho que ele traz essa questão do recorte estar sendo sempre pelo olhar branco, mas que ao mesmo tempo é parte da nossa história.”

Receptiva às críticas, a diretora Daniela Thomas afirmou durante o debate que hoje não faria o mesmo filme, mas considera que a obra terá um papel importante em fomentar esse tipo de discussão no cinema nacional. “Tratando-se de um branco e do ponto de vista da menina, vai suscitar muita discussão, mas ao mesmo tempo eu me sinto honrada e orgulhosa de poder estar no meio dessa discussão e ouvir essas vozes que eu ouço muito raramente. Para mim está sendo um aprendizado.”

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